quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Mil novecentos e oitenta e nove


Nasci em mil novecentos e oitenta e nove em um lugar que não me cabe. Desprovido de certezas aprendi a ter dúvidas sinceras. Meus enganos são naturais. Meu encantamento pelo outro é espontâneo. Sou um bom articulador de sensibilidades. Recrio relações significativas que o tempo e a distância insistem em desmanchar. Autorretratos me fascinam. Me perco, me percebo, me percorro em cada tentativa imperfeita de dizer a mim mesmo de outros modos. Encontro fragmentos meus em cada rosto que reparo, em cada alma que consigo alcançar. Aparento saber mais do que realmente sei. Engano a mim mesmo com explicações provisórias. Disfarço muito bem minha falta de destreza com a vida. Sempre invento razões para gostar de alguém. Acabo gostando das pessoas sem nenhuma razão inventada. Encubro segredos que não me cabem. Desfaço amarras que tentam me refrear. Tenho afeição por gestos sinceros. Sinto mais do que consigo demonstrar. Cuido do que é meu nos outros. Cuido do que é dos outros em mim. Reconheço que não sei muito sobre mim e continuo arranjando maneiras de escapar do pouco que consegui descobrir.

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