quinta-feira, 31 de maio de 2018

Eu [não] te amo!


Existe, com certeza, no mundo contemporâneo uma excessiva expectativa com relação à vida afetiva. Como se ela consertasse todas as coisas, servisse de cola para tudo e deixasse cada coisa em seu lugar. No entanto, qualquer pessoa que se proponha a pensar um pouco sobre essa questão vai perceber que a ideia de que ser amado significa sempre uma coisa boa não é necessariamente verdade. Como nos lembra Bauman, na sua obra Amor Líquido: "Numa relação, você pode sentir-se tão inseguro quanto sem ela, ou até pior. Só mudam os nomes que você dá à ansiedade." Até pouco tempo eu não entendia muito bem o motivo pelo qual todos nós morremos de medo de amar e de ser amado. Mas, às vezes quando uma pessoa fala que ama você, ela ama você e tem alguma expectativa de retorno. E se você não está disposto a amar de volta, ou demonstrar interesse isso pode ser um transtorno na sua vida.

[...]
- Eu te amo.
- Pelo amor de Deus, não me ame não... que eu estou muito bem do jeito que eu estou. Inclusive, estava muito bem antes de você me amar.
- Estava brincando, eu não te amo... relaxa!

Trechos inspirados na fala de Felipe Pondé

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Mil novecentos e oitenta e nove


Nasci em mil novecentos e oitenta e nove em um lugar que não me cabe. Desprovido de certezas aprendi a ter dúvidas sinceras. Meus enganos são naturais. Meu encantamento pelo outro é espontâneo. Sou um bom articulador de sensibilidades. Recrio relações significativas que o tempo e a distância insistem em desmanchar. Autorretratos me fascinam. Me perco, me percebo, me percorro em cada tentativa imperfeita de dizer a mim mesmo de outros modos. Encontro fragmentos meus em cada rosto que reparo, em cada alma que consigo alcançar. Aparento saber mais do que realmente sei. Engano a mim mesmo com explicações provisórias. Disfarço muito bem minha falta de destreza com a vida. Sempre invento razões para gostar de alguém. Acabo gostando das pessoas sem nenhuma razão inventada. Encubro segredos que não me cabem. Desfaço amarras que tentam me refrear. Tenho afeição por gestos sinceros. Sinto mais do que consigo demonstrar. Cuido do que é meu nos outros. Cuido do que é dos outros em mim. Reconheço que não sei muito sobre mim e continuo arranjando maneiras de escapar do pouco que consegui descobrir.

sábado, 22 de julho de 2017

Devolva-me!


Há pessoas que nos desestruturam e nos fazem nos perder da nossa essência, da nossa verdade, do nosso cerne, do nosso eixo, do nosso sentido de nós mesmos.

Há pessoas que nos limitam, que não nos entendem, que não nos permitem, que não nos acolhem, que não nos motivam, e que não nos comportam.

Há pessoas que fazem você chegar ao fim do dia na sua casa, sentar-se e pensar: Será que eu sou realmente apenas isso?

Há pessoas que são estúpidas, que são pesadas, cansativas, negativas, que são inacessíveis e emocionalmente exaustivas.

Há pessoas que são abusivas, arbitrárias, autoritárias, que são excessivas e moralmente desgastantes.

Há pessoas que fazem você querer desistir, que fazem você perder a crença, perder a sensatez, perder o equilíbrio, perder o tino e perder o prumo.

Há pessoas que nos diminuem, nos menosprezam, nos depreciam, nos desvirtuam, nos abocanham, nos atrapalham, nos dificultam e nos prejudicam.

Há pessoas com corações tão pequenos e restritos que não nos cabem, que nos afligem, que nos entristecem, que nos consomem, que nos compelem a questionar se de fato há ali um coração.

Há pessoas que nos penalizam pelas nossas qualidades, que nos obscurecem por nossos talentos, que enturvam nosso olhar, que confundem nossos sentidos, que assombram nosso brilho e que embaraçam a nossa alma.

Há pessoas que, sem motivo algum, sufocam nossos dons, engasgam nossa autenticidade, subtraem nossa força interior e dizimam nossas qualidades naturais.

"Há pessoas que nos roubam, mas há pessoas que nos devolvem"... Devolva-me!

segunda-feira, 20 de março de 2017

Meus 20 e muitos anos


Não por acaso, dizem que a nossa vida faz mais sentido de trás para frente. De fato, quando paro para apreciar minhas vivências em retrospecto, na maior parte das vezes, fico com a sensação de que tudo realmente aconteceu como deveria ter acontecido.

Evidentemente, essa constatação me deixa com uma sensação de que só há um fluxo natural de movimento para que as coisas fluam na minha vida. De que só posso vivê-la em uma direção, e de essa direção é para frente.

Ora, quanta ingenuidade a minha! Mas, confesso que realmente cheguei a acreditar por um tempo que a vida era uma narrativa linear. O pior é que, com isso, criei uma ilusão de que estava realmente construindo uma história de desenvolvimento coerente para mim, recheada com fábulas de sucessos e de reconhecimentos ilusórios.

Mas, como diz o ditado: antes tarde do que mais tarde. E hoje, com meus 20 e muitos anos pude constatar que tal como eu, a vida é dinâmica, orgânica e simbiótica. Ela flui em todas os sentidos e direções. E cada uma das circunstâncias e desafios que se apresentam exigem de mim uma nova forma de sentir, uma nova forma de me expressar, e uma nova forma de ser.

Mas, livrai-me Senhor do descontentamento de mim mesmo, amém!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Quem é você para mudar alguém?


Seja você quem for, seja você o que for, eu não quero e não tenho o direito de impor nenhum ideal meu de que você tem de ser alguma outra coisa além do que você é. As pessoas são diferentes e nós deveríamos nos alegrar por isso. Seu julgamento não vai mudar ninguém. Quem é você para mudar alguém? Eu o aceito como você é. Eu não tenho nenhuma expectativa sobre você - e não quero que você seja modelado dentro dos meus critérios. Nos sentimos muito mais vivos quando nossa totalidade é aceita e respeitada. Por isso, o que eu sempre quis e desejo profundamente é que cada pessoa a minha volta seja simplesmente ela mesma, absolutamente natural... e permitindo que eu também seja natural. Que possamos aceitar uns aos outros, tentando compreender o mistério de cada um e ajudando de todas as maneiras para que o outro possa se tornar cada vez mais autêntico e espontâneo. Porque somente seres humanos autênticos podem tornar nossa existência mais alegre, mais compassiva e, verdadeiramente, humana.

Adaptado de: OSHO. The Hidden Splendor (O Esplendor Escondido) # 17, p. 197

segunda-feira, 30 de maio de 2016

O básico


Dispenso as preocupações práticas e as coisas da civilização, pois, o tempo que eu tenho é para as minhas dúvidas. Perco-me nos meus pensamentos e me apego a cada detalhe que possa me descomprometer com o presente. Pode ser o caminho. Pode ser o destino. Pode ser o vento que sopra ou a vida à toa. Pode ser a felicidade. Pode ser a inquietude. Pode até ser o que você quer, ou o que eu tenho para oferecer. Pode ter razão. Pode não ter intenção. Pode ser simples ou não. Só me preocupo com a vida, com a morte, com a dor e a alegria de existir, com o outro e com o sentido de mim mesmo, ou seja, com o básico.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Espero que eu saiba


Que eu saiba silenciar.

Não aquele silêncio arrogante de quem subestima o outro e tem preguiça de dialogar. Falo de um silêncio sutil, afetuoso, genuíno e acolhedor. Aquele silêncio que não tem necessidade de ter razão, que não espera um “concordo com você” ou um “bem que você disse”.

Que eu saiba amar.

Amar no sentido mais amplo da palavra. Não apenas aquilo que eu gosto, o que conheço e o que faz sentido para mim. Amar como uma possibilidade de encontro, de aceitação, de expansão da minha capacidade de sentir e apreciar o outro verdadeiramente.

Que eu saiba desapegar.

Desapegar de todas as coisas não resolvidas no meu coração. Desentulhar os restos de sonhos e deixar espaço para os novos. Reciclar as mágoas e perdoar as ofensas. Misturar meus rótulos e experimentar novas formas de ser.

Que eu saiba sentir.

Sentir falta. Sentir alegria. Sentir medo. Sentir raiva. Sentir gratidão. Sentir sem reversas. Deixando um espaço para que cada emoção possa se exercer. Vivendo um momento de cada vez. E entendendo que cada experiência, seja ela agradável ou não, deve ser apreciada.

Que eu saiba corresponder.

Corresponder aos gestos e afetos sinceros. Retribuir a alegria que alguém traz para minha vida. Recompensar as palavras afetuosas, as atitudes compreensivas e os atos bem intencionados. E que eu possa presentear os conhecidos e desconhecidos com o melhor de mim.

Seja em 2016, em 2026 ou em qualquer outra época... só espero que eu saiba.